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ENTRE PARTOS







Série com seis ilustrações iniciadas em outubro de 2020 a partir da evocação de memórias da artista nos últimos 10 anos (2010-2020), perpassando por períodos de inquietude existencial, fúria corporal e fragilidade mental. Tendo experimentado suportes maiores e diversos, a artista encontra seu lugar em pequenos moldes, em pequenos espaços onde desagua a cabeça-em-mãos em um processo de aparente controle sobre a matéria resultante de suas reminiscências.






Se me perguntassem "quem és, afinal?", diria, de sobressalto, "sou outrem, no sentido especular, certamente". Sou aquela centelha que lateja indicando traços do que silencio, entre falácias interditas, simplesmente, ousando desconstruir os verbos que me definiram, outrora, absurdamente reclusos, agora. Levanto os lençóis que cobrem os caminhos que me guiam, ainda, a lugar nenhum, tramando alcançar-me, secretamente, enquanto durmo acordada. Já cansada, lamento conhecer meus abismos de perto, e preparo o corpo para o impulso rumo ao nada. Senti um sopro denso atravessar aquela olhadela tola que lancei para alcançar o porvir, desta vez. Vislumbrei, apenas, o cisco que indicava o pensamento turvo, na verdade. Me apeguei à ordem dos fatos vãos, e consumi certezas vazias com voracidade.Plantei raízes profundas, abrindo mão das passadas largas. Minha alma, rente ao chão, consumia-se em protesto. Tampei meus ouvidos, de súbito, para abafar quaisquer ruídos internos. O som que ecoava, secretamente, dizia muito sobre mim. Acreditei ter escutado meu nome entre gritos mudos. Olhei para frente e avistei meu próprio umbigo, somente. Achei que aquilo era grandioso. Conformada, debrucei-me sobre o mapa que expunha minhas entranhas. Não pensei muito sobre essas buscas infundadas. E parti, mais uma vez, tentando me ter.
(Ana Cândida)